É um velho ditado que vez por outra faz todo sentido do mundo. Meu irmão Ricardo é portador da Síndrome de Down. Isso lá nos anos 60,quando ele nasceu, era muito dramático. Triste mesmo.Pouco se sabia, os familares escondiam seus doentes “ mongolóides “ e era difícil inseri-los na sociedade. Eles viviam meio à margem, num mundinho particular. Felizmente isso nunca aconteceu com meu irmão. Foi dramático sim, porque minhas colegas chamavam meu irmão de “bobinho”, e eu era bobinha o suficiente pra sofrer.Lá em casa foi uma pequena revolução. Tudo começou a girar em torno do Ricardo. Felizmente meu pai era um grande médico, e juntamente com Alda Strazulas, Jô e Antonio Clemente, e Ruth da Silva Telles, fundou a APAE ( Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), em São Paulo. Isso começou a dar uma nova perspectiva de vida aos nossos especiais. E o Ricardo saiu-se muito bem. Ele tem um gênio maravilhoso. Sempre de bem com a vida, gosta de todos, não discrimina ninguém. Curte a vida, é super saudável e aprendeu a conviver em sociedade, de tal forma, que ouso dizer que é muito mais adequado que muita gente normal....aliás quem não é normal aqui? O Ricardo é, e muitas vezes mais equilibrado do que eu. Graças a novos costumes sociais hoje há espaço para todos. O meu irmão, que ao nascer,inicialmente nos pareceu um problema, na minha família virou solução, porque com seu jeitinho doce virou a unanimidade da casa e eu particularmente,tenho ele como minha estrela, meu anjo-da-guarda. Da minha família original, só sobreamos nós dois. Ele é meu pai, meu irmão, meu tudo, e ao longo do tempo, só me ajudou.Ele é a minha grande herança. Chego a achar que sua vinda ao mundo foi em meu benefício. O que declaro aqui é que sou fã incondicional do meu irmão, e que a convivência com ele e seus colegas só fez acrescentar amor e esperança a minha vida. Tudo que se possa fazer por eles é válido e necessário, porque o amor deles é de ordem superior, e nos tempos que vivemos essa semente de amor é importantíssima! Viva o Ricardo ! Viva a turma “Down”, que de down só tem o nome. É pra cima e não pra baixo!
Entra aqui, em oposição aos “Down” e o grande amor que existe em seus corações, essa xenofobia que anda destruindo tantas vidas.



